MANUEL DA VEIGA TAGARRO
( Portugal )
Manuel da Veiga Tagarro foi um poeta português activo durante o século XVII. A Laura Anfriso (Évora, 1627) é considerava a obra principal deste Autor.
O D E
De um verde ramo o doce pintassilgo
Vozes ao vento dava;
Tais primores inventa
Que o Tejo que passava
Pirâmides de vidro trasladava.
Anfriso pobre, sobre a barca humilde,
Na mão o leme tinha
E, ouvindo o vário canto,
Pera a praia se vinha
Por gozar de mais perto a avezinha.
Chegou o peregrino à praia amena,
E o pássaro contente
Compassos de garganta
Dobra mais brandamente,
Como quem de desgostos vive ausente.
Anfriso, de sua barca debruçado,
Ao pranto as rédeas dava
Tendo os olhos na areia,
E quando os levantava
Ao pequeno cantor assi falava:
Músico ramalhete, que cantando
Ao tom das claras águas,
De cuidado isento e de mágoas,
Não sentistes de amor as duras fráguas;
Se faz das ondas órgãos de cristal
Este rio fermoso
A que os cantos largais
De álemo frondoso
Com vossa companhia venturoso;
Se as capelas de vozes acordadas
Quando as pintadas aves
Fazem salvas ao dia,
Alegres e suaves,
Ora agudos acentos, ora graves;
Se naquele sonoro ajuntamento
De solfa não aprendida
Lançais o contraponto
Com garganta subida.
Temei, pássaro, a sorte endurecida.
Temei do caçador os cegos laços
E temei muito mais
As redes do Amor,
Que se hoje cantais,
É porque vosso mal não adivinhais.
Não fieis nessas penas de ouro e verde
Nem no canto acordado,
Porque eu também cantei.
Ai, rigoroso fado!
Quantos tiros esta alma tem provado!”
Isso dizendo, o pássaro voava;
E ele, a proa virando,
Dividia as escumas
Suspiros derramando
Que os ventos pelos ares vão levando.
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Página publicada em novembro de 2021
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